Entrevista com Maisa Antunes


 Por Emiliana Carvalho
No “front” da ideia
De entrevistadora a entrevistada. A pedagoga e professora Maisa Antunes, mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia se acomodou na poltrona e, com total franqueza e convicção, tomou a frente para se colocar na mesma posição em que estiveram seus entrevistados, o arte-educador Duarte Jr. e o filotógrafo (filósofo-fotógrafo) Marcos Cesário, no contraponto de ideias e reflexões impressas no livro de sua autoria: A Arte e a Educação.
A obra promete movimentar as bases enraizadas do conceito Arte-Educação. Maisa Antunes, no diálogo que segue, expõe sentimentos em forma de reflexões.

E.C.– Como surgiu a ideia de colocar frente a frente dois temas que as pessoas comumente julgam como não-controversos?

Maisa AntunesJustamente as controvérsias. Sou professora há algum tempo. Em minha experiência com o ensino fundamental atuei com a disciplina Educação Artística. No ensino superior, coloco-me diante do componente curricular Arte-Educação, assim denominado pela influência, principalmente, de Herbert Read, Mae Barbosa e Duarte Júnior. É na atuação com esse componente e no contato direto com alguns artistas que nasce a inquietação e, com ela, a ideia de pensar e olhar de perto a Arte e a Educação.

E.C. – Você é pedagoga, professora universitária e engajada em projetos de cunho artístico. A Arte e a Educação têm muito a ver com suas experiências?

Maisa Antunes Sim. Claro que tem. Os projetos artísticos e o contato com poetas-escritores levaram-me irreversivelmente para perto da Arte, da Poesia. O contato com biografias de artistas e o sabor intenso do temperamento desses homens e mulheres que entregaram-se ao engajamento instintivo, mostra-nos o que nos tornamos: incapazes de contemplar e ver.
Nos cursos de formação de Pedagogia que tenho trabalhado, comecei a solicitar dos estudantes – alguns, já atuam como professores do ensino fundamental - que me relatassem suas experiências com a contemplação artística. Foi então que me surpreendi com os relatos de professores de Arte-Educação que afirmavam - usando a livre expressão com desenhos, colagens e outras técnicas - acreditarem estar formando artistas e que o resultado dessas produções se tratavam de Arte.
Outra questão importante: a convivência com artistas me possibilitou entender que a Arte não é um meio para tornar a convivência do indivíduo melhor com a sociedade. Pode até ser o contrário, já que um número significativo deles não encontra liberdade dentro de um jogo tão sistemático como é o currículo escolar, no qual toda a causa provocada encontra um efeito muito bem moldado às expectativas curriculares.

E.C. – O que você pretende passar para os leitores através das reflexões expressas no livro?

Maisa AntunesEu tento abrir, como espectadora, um campo de reflexão sobre a Arte e a Educação. Para isso conto com o arte-educador Duarte Júnior, um crítico da educação conservadora, um sonhador que acredita na possibilidade de uma educação do sensível, pautada em fundamentos estéticos e conto também com o artista e filotógrafo (filósofo-fotógrafo) Marcos Cesário, poeta das imagens e das palavras, que vem afirmar e nos mostrar que Arte é Arte e Educação é Educação. São olhares diferentes e, às vezes, complementares.

E.C.- Como foi estar diante de entrevistados que se posicionam contrariamente a respeito de um mesmo tema?

Maisa Antunes Uma experiência rica e ímpar.

E.C. – Então, o que podemos esperar do livro A arte e a educação é...

Maisa AntunesProvocar o que precede o pensamento, os sentimentos. Estou pronta para elucidar meus próprios e aprendidos equívocos quanto ao uso da Arte para um determinado fim curricular. O livro é uma prova disso.     

E.C. – E para você, diante de tudo o que foi exposto, Educação e Arte são áreas complementares ou totalmente opostas?

Maisa AntunesSão duas áreas diferentes e independes. Uma não depende da outra. A Educação tem utilidade, tem um fim. O fim da Arte é a própria Arte. Não sei se, na linguagem, o termo seria oposição, mas mesmo considerando o fato de serem opostas não desconsidero a possibilidade de uma ajudar a outra, de acontecer experiências de complementaridade, não como condição de ser. Nesse momento, o que não dá mais para aceitar é enquadrar a Arte na perspectiva da previsibilidade que tanto se vale a Educação. A Arte não é algo previsível, educada. Como pode educar? A convivência com diversos criadores levou-me a acreditar que a imprevisibilidade é o material mais caro à Arte.
O que defendo hoje, não é a retirada da Arte das escolas, ao contrário, ela deve estar presente na escola. Nós professores precisamos buscar o caminho para sermos comunicadores de beleza. O que é ser comunicador de beleza? É encantar, compartilhar a poesia expressa nas diferentes formas artísticas, possibilitar, sem cobrança, uma contemplação estética e, com sorte, provocar nos raros e talentosos um encontro com sua vocação.